segunda-feira, 15 de novembro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

Rolling Stones tocando Love in Vain
e ainda sinto frio
meia garrafa de conhaque se foi
e ainda sinto aquele mesmo frio
os blues
os livros malditos
os poemas bêbados
não têm conseguido ajudar
o frio vem de dentro
daquele buraco na alma
que nem todo conhaque do mundo
vai conseguir preencher

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ouço quarenta canções de blues por hora nos últimos dias
e nem isso tem aquietado minha angústia
nem isso tem facilitado minhas ternuras
tem concluído minhas auto-torturas

bebo três garrafas de Jack numa mesma tarde insana
na vã tentativa de frustar a dor
mas lendo Schopenhauer os caminhos se tornam um pouco mais obscuros

fumo dois maços de cigarro nessa madrugada triste
Howlin' Wolf uivando sobre minha cabeça
e as dores do mundo adejando minha janela
me afogo entre as pernas dela
olhando um nascer do sol fudido
e tentando acreditar em happy endings



*Howlin Wolf & The Yardbirds - Sitin' on the top of the world*

terça-feira, 5 de outubro de 2010

vigio coisas mortas
observo a decomposição
o cheiro pútrido têm se tornado quase familiar
aspiro profundamente
e percebo
que o cheiro
vem das coisas mortas
dentro de mim

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

encontrei um poema perdido numa noite de domingo
entretando
ventava muito



*beatles - blackbird*
almost on tears

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pílula d'Anna

e só nessa hora que você se parece com aquele sonho que eu tive
só quando você dorme
quando resmunga sob as toneladas dos braços de Orfeu

é só quando não vejo o branco insistente dos seus olhos
quando não ouço o seco arfar de seu pulmão
corrompido pela fumaça de dez mil cigarros

quando vejo suas pálpebras trêmulas
entre sonhos de um futuro de incertezas
sei que você sonha com a morte
sei que ela te visita nas manhãs torpes
em que você dorme resmungando absurdos
bêbado como uma mula

é só quando você se deita
com a cueca estropiada sempre fora do lugar
com aquele jeito canastrão
que me ganhou no começo

quando te vejo adormecido
semi-desmaiado
fedendo a vodka e uísque barato
que me lembro de nossos melhores dias
e ainda não sou feliz
mas, nesse mundo,
quem é?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ela me lembra os dezesseis
quando eu era sonho e ilusão
hoje sou um pouco menos
e fumo um pouco mais

ela desliza suave
enquanto eu ando arrastado
a coluna meio torta de tanto dormir sentado
em pontos de ônibus
bancos de praça
cadeiras de bares

ela ainda tem meu antigo olhar
de quem espera pacientemente por dias melhores
ainda sonha
ela ainda não sabe de onde virá a encrenca

eu ouço Tom Waits como uma ansiedadde filha da puta
e arranho as paredes
bebendo Tokay
em busca de fuga

ela dorme serena
enquanto amaldiçôo meus fantasmas
e ainda me pregunto
como o velho Buk
"Meu Deus, até quando?"

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

eu vingo o fosso falso que há em mim
vomito elogios
trago na alma a cicatriz
de poeta
de bêbado
marginal

trago em mim a essênscia Niilista
ao mesmo tempo que amo
finjo
minha alma é um labirinto de bares
sebos
puteiros e velhas casas abandonadas

ao mesmo tempo que te amo
minto
e ainda sou mais original
que as canções do rádio em um domingo

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

ela se virou
eu ri
armou o soco
e acertou em cheio

o fosso profundo do meu rosto
sorriu
cheia de malícia

e disse outra vez
em bom filhadaputez:
te amo, mas ainda assim...


(comentem, se ainda tem alguém ai)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

de regurgitações poéticas caí em devaneios. olhei a moça na calçada e senti asco. amor. vi passarem por minha janela setenta e duas putas e em vez de qualquer coisa me puz a chorar. a malandragem anda me soando meio triste com seus sambas. pedi uma cerveja e cotinuei. ela veio andando selvagem. com meia garrafa de gim. batom vermelhobrega. unhas postiças e aquela cara de vagabunda. asco. amor. novamente. sentada no meu colo rebola o rabo docemente e finge que gosta. meu pau duro quase furando a calça. olhando em volta peço a saideira, um conhaque, me recomponho, me levanto e vou embora. ela fica. com a mesma cara de puta. como uma cadela abandonada. volto a regurgitar. e a devanear.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

é que de vez em quado eu sinto frio
de vez em quando eu não sei o caminho

é que por vezes me vejo perdido
me sinto vazio

um tiro no meio da madrugada
pode ser um aviso

olho em volta
minha cama ainda contém desertos
desde que ela se foi

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"Número 23"

nunca liguei pra esse papo de aniversário. sempre foi apenas uma desculpa pra encher a cara. mas esse ano foi um pouco diferente. só um pouco. me sinto feliz por completar vinte e três anos de vida. me sinto como um velho. e isso não é necessariamente ruim. vejo as coisas como um velho, no topo de uma montanha, olhando pra baixo com serenidade. essa é a palavra. SERENIDADE. paz. não é felicidade que eu não sou louco de acreditar em uma coisa dessas. é paz. olho pra trás. para as coisas que eu vi e vivi. muita loucura pra um jovem de 23 anos. a morte bateu em minha porta. duas vezes. e eu, chapado, ri da cara dela. estupidez. a morte não brinca em serviço. e se eu escapei até agora é porque alguém lá em cima deve gostar de mim. amém. meus fantasmas ainda são os mesmos. as tentações são violentas. as incertezas. mas hoje, quando eles vêm em noites quentes, tenho a manhã de rejeitar o uísque. só acendo um cigarro e tento negociar. nunca fugi do pau, e sei que mais cedo ou mais tarde eles vão me intimar e teremos que acertar nossas contas. até lá, eu espero sentado, olhando minha mulher estudando com nosso filho no colo. sereno. em paz. quase feliz. quase.


*Stones - Angie*

domingo, 15 de agosto de 2010

a treta se deu quando ele começou a pensar no assunto. não sabia como. apenas começou. a semente foi plantada de alguma forma. o ódio começou a surgir onde antes só havia tédio e desilusão. a idéia foi cresccendo. tomando forma. aumentando em intensidade. variedades. pensou em todas as possibilidades possíveis. pensou em fogo atravessando as ruas em setembro. pensou nela deitada sonolenta e nauseabunda. pensou na arma sobre a cama. a lâmina. pensou em comprimidos. ele avaliou com calma todas as rotas de fuga. as sentenças possíveis. os meios e o fim. se decidiu. um pouco antes da hora. ainda disse te amo. antes de disparar. duas vezes.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Hoje matei um passarinho só pra vê-lo sangrar
estou cansado do Humanismo
vou fundar o movimento do Anti-Humano
a Associação em prol da desuminazação
ou a Concregação da Eutanásia coletiva
ou o Congresso dos fodidos, desgarrados e desgraçados em geral
Vamos todos beber à isso
vamos nos sentar nos bares mais infectos da cidade
e derramar litros e litros de cerveja em homenagem à morte
chamaremos-a para beber conosco
e quando ela nos disser que é nossa última dose
que o fim está próximo
ergueremos um brinde sorridente

Quando tudo acabar
eu juro que compro uma televisão

sábado, 24 de julho de 2010

Ela me olhou com aquela cara novamente
ela me olha e a angústia vêm se aproximando de minhas entranhas
Meus erros sempre me incomodaram muito
muito pouco
entretando ela fogo e fúria
e eu sou cinzas
sob seu corpo


*Ultraje - Giselda*

De volta porra!!! agora pra ficar!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

me sinto amargamente embriagado
ando caminhando torto
como um cachorro louco
me servindo de vinho do porto

tenho bebido pouco
sentindo frio em tardes ensolaradas
os idiotas me mostram seus sorrisos conformistas
acendo um cigarro

a inocência pode ser incrivelmente cruel

sexta-feira, 9 de abril de 2010

feel like a blue song

me sinto como uma canção blues
canto versos abomináveis
me sinto como uma canção blues
meu sangue azul de discórdia
me sinto como uma canção blues
meus poemas
sua glória



*Freddie King - same old blues*

segunda-feira, 1 de março de 2010

.divagações etílico-solitárias em uma mesa do vagalume I

.para o bróder K9

Ele chegou com os amigos e se sentou. Quatro homens felizes tomando cerveja e falando sobre futebol. Ele se destacou. À vontade no mundo. Sempre me surpreendo ao ver gente à vontade no mundo. Andava com a tranquilidade de um bicho preguiça no inverno. Poupando energia. Um olhar superior de quem sabe muito. E, no entanto, ignorante e feliz. Senti inveja. Eles beberiam até onze e meia da noite. Depois entrariam em seus carros e voltariam para suas esposas. Ele tinha uma esposa, também à vontade no mundo. Eles iriam ter, se já não tivessem, um casal de filhos, que também se sentiria à vontade no mundo. Filhos que cresceriam e passariam o natal em família. Filhos que teriam outros filhos. Gente à vontade no mundo, criando mais gente à vontade no mundo. Gente que seria sempre assim. E morreriam velhinhos, de fralda geriátrica, com sorrisos babões num domingo à tarde. A família seguiria. Todos à vontade. Até que o gene da insensatez, guardado por dezenas de gerações no DNA maldito, eclodiria no filho de um deles. Um garoto que aos dezoito anos tatuaria uma fênix no ombro direito, e uma rosa na batata da perna esquerda. Ouviria Cazuza e seria liberal. Faria festinhas malditas com meninos e meninas. Um dia o gene da insensatez daria à ele um outro filho. Este não se sentiria nada à vontade no mundo. Na adolescência eclodiria o ódio do pai meio bicha. Depois, com os livros e os discos, viria a compreensão e a paz. Esse saberia de onde vem a porra toda. Entenderia, aceitaria e até se divertiria com o pai. Nunca à vontade. Nunca quieto. Nunca satisfeito. Mas o homem no bar só queria sua cerveja. Eu o olhava com um misto de inveja e tristeza. Já disseram, várias vezes, ignorância é felicidade. Mas eu não troco. Não há paz. Ainda bem.

*Rage Against The Machine - Bulls On Parade*

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

No Bar

estou encostado no balcão, esperando minha cerveja. dois caras conversam ao meu lado, e bebem cerveja. não estava prestando atenção na conversa deles, até porque não faz muito meu tipo pescar conversa alheia. até que passa aquele avião. mulher de parar o trânsito. e um deles solta:
- Já comi.
ao que o outro responde:
- Porra, do caralho, como é que ela chama?
e ouço a pérola:
- Porra cara, e cê acha que eu lembro.

coisas do bar.



*Seasick Steve & The Level Devels - Cheap*

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

o que eu chamo de arte

viver e não ter a vergonha de ser feliz
felicidade nem tanto
serenidade
paz
poesia

um blues de Lead Belly às quatro da manhã
cigarro e cerveja
amigos

o que eu chamo de arte
não é necessariamente a grande obra
o que eu chamo de arte
é se sentar sozinho
numa noite de inverno
quando ela fugiu
e não chorar


*Beatles - Helter Skelter*