terça-feira, 29 de abril de 2008

fim de férias

depois de um longo período de férias resolvi botar um texto aqui.
sinto saudades do blog, inda mais depois desse fim de semana, no qual eu li e escrevi freneticamente.



São sete da noite e ela não veio hoje. Quinta feira é dia de Maria Aparecida me visitar. Não, não é minha namorada. É minha analista. Como dizem os outros médicos. É assim que eles se chamam: Médicos. Eu os chamo de guardas. Ou meganhas, ou filhos da puta, em geral. Me trancafiaram aqui dentro e dizem que sou um perigo pra sociedade. É fácil ser um perigo pra sociedade. Você deveria tentar. Não é tão divertido quanto parece, nem tão arriscado, mas é bem fácil. A única coisa que eu tive que fazer foi dar uns tiros pro alto e gritar muito. Agora pense nisso: comida de graça e ficar doidão o dia inteiro. É só você sibilar umas palavras sem nexo pra eles, revelar seu instinto assassino quando na verdade você não tem coragem de matar nem uma mosca, dizer que é afim de matar a sua mãe e quer comer a Hebe Camargo, o que, por si só, já deveria dar cadeia.

Duas vezes por dia eles vêm aqui e me dão meu santo remédio, e então eu saio pro “banho de sol”. Temos todo o tipo de malucos por aqui, e alguns espertalhões que fazem fortuna. Tem um enfermeiro que trafica uísque aqui pra dentro. Tem uma enfermeira que da a bunda no fim do corredor. Não me falta nada.

Considero o fato da minha mulher ainda vir me visitar constantemente. É um alívio poder dizer que eu a odeio, que nunca a amei, que ela é que é uma imbecil e que não devia ter mentido pra mim sobre o anticoncepcional. Ela acha que eu estou louco o que me concede impunidade e liberdade. Falo com ela que nossa filha vai se transformar numa putinha igual a ela. O que é, incondicionalmente, verdade. Ela chora e diz que me ama e que está louca pra que eu me recupere e volte pra casa. Então eu sacaneio de verdade, digo que só saio de lá se for pra matar minha mãe e enterra-la junto com Toby, meu cachorrinho que foi enterrado no nosso quintal. Ela chora, de novo.

Maria Aparecida, quando vem, tenta ser minha amiga e me consolar, diz que ela quer me ajudar, me tirar daqui, mas só poderá fazer isso se eu cooperar. Contar pra ela porque fiz aquilo. Já pensei em dizer A Verdade pra ela, mas penso que não ia adiantar, ela me acharia mais louco ainda e mandaria darem choques nas minhas bolas. Não quero tomar choques nas bolas. Os remédios me bastam.

Outro dia consegui escapar pra ala feminina. Um verdadeiro show. Certas coisas deveriam ser proibidas, até nos hospícios, uma mulher velha, parecendo o Cauby Peixoto, levantando a saia pra todo o mundo que passa, por exemplo. Mas na ala feminina encontrei Karina. Linda e loira nos seus vinte e dois aninhos. Os olhos vasados, cheguei e tentei puxar assunto, ela não respondeu. Então espalmei um peitinho, antes que algum enfermeiro se aproximasse, ela deu um sorriso bobo e meu pau quase furou a calça. Karina, tava escrito no crachá. Resolvi endoidar de vez. Os enfermeiros me trouxeram de volta, à força pra minha ala. Eu, decidi, não saio daqui enquanto não comer aquele cu. Karina há de sair comigo.




ps. Leiam "os dez pecados de Paulo Coelho", de Eloésio Paulo
ps2. Projeto Buarque Blues inde otimamente bem após primeiro ensaio

*Chico - Vou Até o Fim*