tag:blogger.com,1999:blog-23602193204567834202024-03-13T19:08:45.264-07:00Bleck TayBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.comBlogger69125tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-91908451086207599572016-04-05T05:50:00.007-07:002016-04-05T05:51:57.370-07:00<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i><b>A cidade me atormenta. 24x7. Andando por esquinas escusas. Me pergunto quando vou parar.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b id="docs-internal-guid-461c4d0a-e678-938d-2d64-58d8cdf77488" style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Na terceira cerveja, Mário parou. Tinha que sair do bar, pra poder fumar. Michele aguardava por ele, pacientemente, ao lado da porta. Fuçando uma sacola de lixo. Quando saiu, andando rápido, Mário assobiou, e Michele correu atrás dele.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Michele era leal. Diferente de sua homônima, a ex mulher de Mário, que até onde ele sabia poderia ter dado para o bairro todo, antes de simplesmente desaparecer, levando todo seu dinheiro. Deixou na cama uma calcinha usada. Mário deu pra Michele essa calcinha, no mesmo dia que a adotou. Toda noite, antes de dormir, Mário deixa Michele lamber suas bolas. Coisa que a anterior, sempre se recusava a fazer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<i><b><span style="color: #eeeeee;"><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A rua, na verdade, não é uma localização geográfica. Ela é um hábito. Que frequentemente se torna um vício. Uma chaga. A rua é um estado de espírito</span><span style="background-color: transparent; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">.</span></span></b></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Patrícia frequenta sex-shops. Nunca compra nada, mas frequentemente se distrai, admirando brinquedos. Tem uma queda especial pelos caralhos de borracha. Gosta de pensar neles assim: caralhos. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sempre escolhe lojas distantes de sua casa, pois afinal, ninguém pode vê-la entrando ou saindo de uma dessas lojas. Ninguém pode sequer sonhar que ela pensa em caralhos. Chega em casa às quatro. No máximo. Tempo suficiente pra preparar o jantar pra ele. Torcendo cegamente pra que não seja uma daquelas noites. Em que ele vai subir em cima dela. Com as luzes, irremediavelmente apagadas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Já sentiu o cheiro de esgoto na noite? Toma conta da cidade. Dos becos. Vielas. Mas não se engane. Ele não vem das ruas. Vem de você.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ninguém jamais soube o que aquele cara queria. Todos olhavam pra ele com um misto de nojo e admiração. Muitos queriam ter sua coragem. Mas na real, ninguém sentia pena. Fingiam, claro. Alguns, que se diziam seus amigos, alegaram em alto e bom som, que já sabiam. Mentira. Nem mesmo ele sabia. Podia acalentar a ideia, em noites sozinhas de setembro. Mas saber mesmo, ele nunca soube. Já havia se perguntado, uma ou duas vezes que gosto o asfalto devia ter. Mas nunca descobriu. Não teve tempo. Mesmo pulando com a boca aberta, sua testa foi esmagada antes que ele pudesse sequer sentir o gosto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Rua é uma criatura noturna. Com alta aversão à luz. Durante o dia, o que se vê são sombras. Apenas.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando Eric descobriu que era gay, não contou a ninguém. Foi um processo lento e doloroso, pra um garoto de doze anos, descobrir que era diferente. Seus amigos queriam ver peitos. E faziam sessões de punheta sobre uma playboy velha. Ele sempre gozava. Mas ninguém nunca soube que ele não olhava a revista. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Um dia ele contou à sua mãe que gostava de rapazes. Ela mandou que ele jamais dissesse isso de novo, “Principalmente perto do seu pai!” Eric teve medo por ela. Com o passar do tempo, ele entendeu que, afinal, estava tudo bem. Mas nunca contou à seu pai, e uma noite o velho o viu na rua, beijando outro homem. Deu uma surra nele, ali mesmo. Eric sabe que não pode mudar, mas esquece da dor dos murros do pai, quando enfia o canudo no nariz. Afinal, são apenas onze da noite, e ainda dá pra achar mais alguns clientes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>A cidade se alimenta sozinha. Um ciclo de necrofagia. Tem apetite voraz. Come carros e pessoas, sem distinção. Você já viu a cidade se alimentar. Tenho certeza. Olhe pela janela. AGORA! Viu? </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Não era um grupo qualquer de jovens. Eles eram diferentes. Ou, ao menos, acreditavam que eram. Queriam, do fundo de seus corações que assim fosse. E isso já é mais do que a imensa maioria. Seus gostos eram diferentes. Suas roupas. Cabelos, quando os tinham. Tinham opiniões políticas fortes, e lutavam por altos ideais. Possuíam força de vontade férrea. Sem exceções. Caminhavam pela cidade, bebiam muito. Tinha entre dezesseis e vinte e dois anos. Brigavam às vezes, com grupos de opiniões opostas. Todos juraram amizade eterna, vez ou outra. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dois viraram contadores. Uma é gerente em uma multinacional. Outro trabalha com segurança, e bate em adolescentes que tentam pixar muros, como ele costumava fazer. Depois de um tempo, nenhum deles voltou a se encontrar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Enquanto a cidade se alimenta, as engrenagens se movem. Nenhum interesse passa despercebido aos olhos de mercúrio. A cidade sabe. Sempre sabe. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="font-weight: normal;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></b></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">São precisamente 09:33 da manhã. E o teclado velho do computador emperra algumas teclas. A cerva está um pouco quente, mas é só a primeira. Cigarros às vezes queimam dedos. Está cedo ainda. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Tentei exorcizar meus fantasmas. Mas eles ainda estão ali, me encarando. Acho que eles não irão embora. Ou ainda têm outras estórias pra contar. Pego outra breja, e espero que eles falem.</span></div>
<span style="color: #eeeeee;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #eeeeee;"><br /></span></div>
<span style="color: #eeeeee; font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #eeeeee; font-size: 14.6667px;"><b>As ruas são os tentáculos da cidade. Se você não tomar cuidado, eles irão te agarrar.</b></span></span></div>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 14.6667px; font-style: italic; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">
</span>Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-86919056318487968792014-08-27T04:28:00.000-07:002014-08-27T04:28:19.089-07:00Sobre essa tal de SerenidadeLevei tempo pra entender. Fui ensinado a rejeitar. Aceitei, durante muito tempo, que era isso que eu devia combater. Essa inquietação que me atormenta. A curiosidade. A necessidade constante de participar em mudanças inexplicáveis.<br />
Foi-me dito que era isso que me levava pra baixo. Isso que me fazia, em noites descontroladas, beijar a sarjeta. Foi-me dito que, sem nenhuma sombra de dúvida, eu estava errado. E, fragilizado pela perda, pela solidão, pela rejeição daqueles que amo e respeito, pela posição que me foi socialmente imposta, esqueci o que sabia, e aceitei como verdade que a melhor coisa em mim era o que me destruía. Encolhi-me. Escondi-me. Fingi, na cara dura,que não era comigo. Que essa angústia que me move, não existia dentro de mim. Aceitei como um cordeiro, calar-me frente ao caos.<br />
Até que eu entendi. Não era preciso negar essa força. Era apenas necessário, imperioso, que eu aprendesse, com urgência, os meios de conviver com ela. Que eu descobrisse as válvulas de escape corretas. Que eu voltasse a frequentar abismos, e administrasse o medo da queda, com a vontade de saltar. Era necessário, mais uma vez, lamber a lona. Ver o mundo de baixo pra cima, pra ter uma leve mudança de perspectiva. Renovar minhas forças, até pouco escondidas pelas friezas da vida, e estar disposto a encarar aquilo que se espera de mim.<br />
A vida é uma vadia cruel e me levou cegamente pelo caminho mais largo. Não me arrependo, eu precisava caminhar um pouco lado a lado com aqueles que desprezo, pra poder entender que o outro lado da estrada ainda me espera. Que sempre é possível virar à esquerda, dar um breve telefonema, e ir buscar aquilo que te faz feliz. Não que essa tal de felicidade esteja todo dia ao meu lado, mas, ainda acredito que, com um velho caderno no colo, alguns amigos seletos, e a perspectiva de uma noite infinita, é possível chegar perto. Tão perto que até dá pra sentir o gosto.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-41682009161329865372014-07-30T07:00:00.003-07:002014-07-30T07:00:38.678-07:00PROCURADO<br />
Sujeito Implícito<br />
do Pretérito Imperfeito<br />
visto pela última vez<br />
em minhas<br />
mais<br />
ébrias<br />
lembrançasBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-38287574159546658162014-07-18T10:45:00.001-07:002014-07-18T10:45:22.288-07:00Ainda guardo algum gosto de noite<br />
no fundo da garganta<br />
<br />
Mostro pra mim<br />
que ainda sei os caminhos escusos<br />
ainda encontro os mesmos<br />
becos escuros<br />
<br />
Sinto os mesmos cheiros na cidade<br />
visito as mesmas portas<br />
as mesmas<br />
calçadas<br />
as mesas<br />
<br />
Ainda desconheço os sabores<br />
daquilo que vem em embalagens bonitas<br />
vestidos de luxo<br />
carros importados<br />
<br />
Ainda não sei de onde vim<br />
mas já sei<br />
em definitivo<br />
sem mudanças<br />
Pra onde vouBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-48056920573432171602014-05-09T05:19:00.001-07:002014-05-09T05:22:13.423-07:00PrimeiroPrimeiro preciso de calma. Pra tirar de mim essa sensação de ódio.<br />
Caminho pelas ruas becos calçadas<br />
enxorradas<br />
Primeiro preciso de<br />
<br />
visualizo sozinho o mudar de cor<br />
do semáforo<br />
observo<br />
bêbado atônito sórdido moribundo<br />
o caminhar do velho perneta da madrugada da afonso pena<br />
<br />
Primeiro preciso de um cigarro. Pra tirar de mim esse ar puro.<br />
nasci criei-me cresci<br />
dentro de um cano de descarga<br />
a via que desafoga a combustão da cidade<br />
a via que destransforma a inocência da cidade<br />
na via que<br />
<br />
acho no chão<br />
na beirada da calçada<br />
pego<br />
guardo<br />
sinto seu cheiro em noites mais quentes que o usual<br />
mas não toco<br />
não mais<br />
nessa vida de coisas comuns<br />
não há espaço para outras<br />
velhas,<br />
tardias<br />
desculpas<br />
<br />
Primeiro preciso de tempo. Pra tirar de mim essa sensação de eternidade.<br />
tic<br />
tac<br />
dentro do peito<br />
falta muito<br />
ainda<br />
tanto tempo que<br />
<br />
primeiro preciso<br />
deBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-2154533041036161252013-06-12T03:51:00.002-07:002013-06-12T03:51:45.454-07:00Beatnothing GenerationDoze anos de Silêncio<br />
amebas atrofiadas em cadeiras de escritório e poltronas de TV<br />
Jovens brigões covardes demais para admitir sua raiva<br />
Doze anos de Medo<br />
<br />
Uma geração inteira de zumbis<br />
por isso as roupas caras<br />
os sapatos da moda<br />
espertofones com alto QI<br />
Doze anos de Tédio<br />
<br />
Uma ditadura se anunciando<br />
em nome de deus cruel<br />
Garotos e garotas sem transar até os 18<br />
Doze dúzias de babacas medrosos<br />
<br />
Um tempo de solidão<br />
mas eles têm 1000 amigos no facebook<br />
Doze milhões <i>online servers</i><br />
<i><br /></i>
Meu medo do futuro cresce<br />
quando olho as crianças<br />
33 rotações completas<br />
nenhum bpm no bitrateBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-83642359321967320712013-03-22T08:50:00.002-07:002013-03-22T08:50:56.375-07:00Não é bem o que chamam de depressão. É inquietação. É incerteza. É toda a fúria acumulada durante anos, lutando pra sair. Reneguei-me a satisfazer meu ego torpe e meus desejos insólitos. E ondas de fúria vêm me amaldiçoando. Fúria real. Quase palpável. Fúria capaz de destruir os diques frágeis que construi em mim. E tenho medo. Tenho medo das consequências disso. Quando as paredes começarem a ruir, tudo o que sair, vai ser ruim. Vai ser feio. Vai ser a soma de tudo de podre que há em mim. Minha alma nunca foi das mais limpas, mesmo. Meus atos de bondade duram um nano-segundo, se tanto. Meus arrependimentos são passageiros cadavéricos no trem de impulsividade que eu sempre fui. Irracionalidade. Raiva, muito raiva. Ódio. Real e inexorável. Tento esconder as rachaduras enquanto arranho essas palavras. Mas elas se abrem mais a cada segundo. Melhor saírem de perto. Quando a bomba explodir, não vai sobrar nenhum carinho. Pra ninguém.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-60509548088177964372012-07-20T13:23:00.002-07:002012-07-20T13:27:02.422-07:00Já vaguei pelos becos imundos<br />Tempo demais<br />Conheço o lodo<br />a solidão<br />derrota<br />Conheço um tipo de medo que poucos homens conheceram<br />um medo que não sei descrever<br />um medo inserido em mim<br />durante anos de tentativas frustradas<br />de erros<br />de fúria<br />Conheço toda a fúria dentro de mim<br />e sei que é preciso CONTROLÁ-LA<br />uma vez à solta<br />e o monstro não vai mais embora<br />nuncaBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-75002947165484806052011-12-07T08:14:00.000-08:002012-07-11T06:05:27.302-07:00Aos moderninhos cheios de opniãoa liberdade de expressão é um direito básico<br />entretanto<br />às vezes deveríamos pensar no direito básico<br />de permanecer calado.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-66815197463204159712011-12-01T07:59:00.000-08:002012-07-11T06:05:27.317-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn58uJ0xSrVwzMwoOebPdoLK1WY2fzP70t-25F0iKJFhXAWIsfduo7W0Oe-xKASgcEQwQ5H10Ib2MpzaGzJj0_O4G_Cj4BWFp-o2Qlh9_B9Uab9pDE9w0R_OS0jaM4MERKo1ayku7GHdQ/s1600/DSC00934.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn58uJ0xSrVwzMwoOebPdoLK1WY2fzP70t-25F0iKJFhXAWIsfduo7W0Oe-xKASgcEQwQ5H10Ib2MpzaGzJj0_O4G_Cj4BWFp-o2Qlh9_B9Uab9pDE9w0R_OS0jaM4MERKo1ayku7GHdQ/s320/DSC00934.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5681190334448308930" /></a><br /><br />a Poesia se apresenta de várias formas<br />cachorro vadio<br />bebe água<br />e nem se importaBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-87106596465792031142011-11-28T03:40:00.000-08:002012-07-11T06:05:27.329-07:00Tragam-me as carcaças dos mortos<br />quando a noite chegar<br />Merda chovendo de todos os lados<br />Não há poesia suficiente<br />para aplacar a solidão<br />Não há garrafas de uísque sufucientes<br /><br />A Derrota é uma dama Sagaz<br />te comprando cervejas numa noite de sábado<br />E você ainda visitando seus fantasmas<br />Tentado a se livrar da morte que habita seu peito<br />esse cheiro de enxofre em você<br /><br />O Perdão tem um preço muito alto<br />os dias de chuva sozinho<br />com uma dose de rum para alimentar a dor<br />figuras anti-poéticas visitando seu abrigo lúgubre<br />a água que lava as janelas<br />aumentando a sujeira em você<br /><br />A luz te mutilando os olhos<br />decepando sua capacidade de discernimento<br />Não há beleza que acalme a fúria<br />Não há veneno que restaure a paz<br /><br />Tragam-me as carcaças dos mortos<br />quando a noite chegar<br />ainda estarei<br />bem aqui<br /><br /><br />*Tom Waits - Hold On*Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-80165076081345382802011-11-24T03:51:00.000-08:002012-07-11T06:05:27.349-07:00Visualização da imagem pura<br />esqueça a palavra<br />Luz e Sombra<br />P&B<br />Corte seco<br /><br />Zoom In<br />o mendigo morto na calçada<br />Zoom Out<br />ninguém nota.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-50295582873225246582011-09-28T05:56:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.361-07:00Não é que eu seja afeito às fugas. não considero mérito nenhum beber até a morte, ou até perder os dedos, como o Lemmy. Não considero virtude a necessidade canalha que me visita em noites tristes. As pessoas tentam me ajudar e eu me sinto abençoado. Entretanto me fecho um pouco mais. Meus problemas não são quadros em exposição agressiva. Não me entenda mal. Não sou melhor do que ninguém pra negar ajuda. Porém fecho a porta do quarto e ouço Tom Waits com uma fervorosidade devota. Me apego às músicas e garrafas e cigarros, na impossibilidade de me entrincheirar entre as pernas dela. Na impossibilidade de rasgar o peito em um blues obscuro. Deito-me sozinho em um quarto alugado. Procuro veias e não encontro. Então bebo um pouco mais. Choro e admiro a morte. Lady suave, que não pode ser trazida à força. Que nunca aceita uma ordem. Me contento com o acre gosto de vinho e continuo por aqui. Enquanto houver Tom waits e cerveja, ainda há uma réstia de esperança.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-2666234391852309522011-09-16T04:48:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.373-07:00Solicito uma linha de espera para lugar nenhum. Eu, Fernando, espero pacientemente que não hajam lágrimas. Sei da deserção em noites de angústia. Da fúria em horas de caos. Frequento abrigos lúgubres infectados com o mais doce tipo de morte. Visito incertezas. Sei da insônia antes da morte.<br />Opto por abandonar o navio. Desisto desse barco imundo nomeado sociedade. Abro mão de novas escolhas. Minhas liberdades. A lua nunca será digna de meus filhos. E o mundo não é limpo o suficiente. Homens demais nele. Loucura, solidão, derrota. A imperdoável sabedoria do ser. A incosistência. incoerência. A falibilidade do Homem. Do Monstro. <br />Ainda amo alguns cães vadios. E uma mulher. Mas nem isso é capaz de me dar alento. Apagaram a luz, no fim do túnel. E simplesmente ligaram o som. Tocando a pior música do mundo. O som de gatilhos em movimentação frenética. Prestem atenção. Vocês vão ouvir também. É a arma na sua cabeça. Aguardando. O fechar dos seus olhos.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-38952198591567928642011-08-29T06:37:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.388-07:00Key to the HigwayQuando entrar o solo de gaita<br /><br />é só meter o pé na estrada<br /><br />Dançar confirme a música não faz o meu gênero<br /><br />Saio pela noite vagando solitário<br /><br />em busca de algo um pouco mais ácido<br /><br />A chave para a auto-estrada no bolso esquerdo<br /><br />Um drink com a morte no caminho<br /><br />Solidão têm um quê de Fascínio<br /><br />mas na real não é tão bonito assim<br /><br />Fazer versos é mais um hábito<br /><br />não existem muitas outras rotas de fuga<br /><br />É mais fácil caminhar pelo lado errado da estrada<br /><br />e nunca deixar uma porta aberta pra trás<br /><br /><br /><br />Quando o solo de gaita começar<br /><br />É só meter o pé na estradaBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-43683946226352809022011-08-26T08:16:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.411-07:00E com a ponta da mão. Apronta o soco. Não abaixa. Desguia, por via das. Dúvidas. Segue caindo. O soco preso. No páreo do ar. O soco que não foi. Soco. A alma caindo. Embaixo da calma. Da cama. Da sala. O ar a ponto de. Fuga. Fervura. Luxúria. E a puta. Onde está? Desviou do soco. Desguiou. Fugiu. Pagou pra ela. E ela nem chupou. A puta. Puta filha de uma puta. Essa puta. Deixou o ar com cheiro de. Lavanda. Amanda. Era esse o nome da puta. Não se lembra? Quis bater-lhe por ódio e medo. Ou seria por tédio e apego? Não. Era medo. Mas medo de quê? De amar. Gozar. Casar e não trepar. Uma vez puta sempre puta. Não podia dar-lhe casa. Comida. Roupa lavada. Seria corno de toda a putada. Pra toda a vizinhança enxerida. Metida. Fodida. E puta se regalaria. Não seria mais puta. Se tivesse acertado. O soco. O soco que nunca foi. Soco. Ele era coxo. Mambembe. E roto. Ela foi-se. Ele. Mal teve tempo. De preparar-se. Ela lhe havia deixado. Um presente. Uma calcinha usada. Meio litro de uísque. Um pouquinho de raiva. E a coragem. Pro formicida.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />(Texto originalmente publicado em: http://diariodinossauro.blogspot.com/ )Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-52955151449066341172011-08-10T05:31:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.436-07:00Por menor que seja<br /><br />que a verdade seja dita:<br /><br />Não há<br /><br />nenhuma verdade<br /><br />em você.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />*Jorge Benjor - Os Alquimistas*Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-33033824774181161572011-08-01T05:51:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.464-07:00Eu não sei lidar com a morte.<br />Acho mesmo que ninguém sabe.<br />Eu bebo e tento me lembrar de bons momentos.<br />É o melhor que posso fazer.<br />Não vou mais à velórios nem enterros.<br />O último que fui foi o da minha avó.<br />O pior dia da minha vida.<br />A morte é uma dama caprichosa.<br />Ela não aceita tributos pequenos.<br />Não pago os meus.<br />Talvez ela venha me buscar um dia.<br />Não pretendo mostrar respeito.<br />Vou cuspir na cara dela.<br />"Sua puta."<br /><br /><br />ps. Isso não é literatura. Eu sei.<br /><br /><br />*Ramones - I believe in Miracles*Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-16754254902806375812011-07-25T07:35:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.495-07:00Metafísica de boteco tem mais matéria do que uma rocha. Me sento aqui e sinto o acre sabor de mentiras servidas em copos lagoinha. Saboreio incertezas com uma fome indevassável. Freqüento lugares em minha mente desconhecidos até pra mim mesmo. Escuto as bobagens mal ditas ao redor. Penso em assassinato. Apenas penso. E atiço minhas angústias contra o mundo. Penso em minhas incertezas e me lembro dela. Então um pouco de paz me visita. Rapidamente. Tempo suficiente pra que eu me controle. Até o próximo gole.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-22881855995824295592011-07-22T04:43:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.519-07:00Fiz escolhas na minha vida. Algumas são difíceis de lidar com. De outras tenho muito orgulho. Tenho muito orgulho de ter me casado com uma mulher que amo profundamente. De ter um filho maravilhoso com ela. Porra, não tô dizendo que é fácil. É foda. Brigamos, ficamos putos um com o outro, temos nossos desacertos. Mas, sempre, sempre vale a pena. E tenho muito orgulho de ter escolhido viver no meu canto do córner. No meu lado da rua. Me interesso por coisas que a esmagadoria maioria das pessoas simplesmente ignora. Possuo um tipo de humor difícil do qual quase ninguém gosta. frequento botecos de esquina e nunca, jamais, barzinhos da moda. Não vou à shopping's a não ser com o único intuito de ir ao cinema. Não vou a casas de shows, à motéis elegantes e nem a pub's irlandeses. Não tenho dinheiro nem estômago pra essas coisas. Não gosto do papo das pessoas que frequentam esses lugares. Gosto do meu cantinho do balcão. Da minha mesa, no fundo do bar. Aprecio um blues soturno enquanto bebo uma cerveja. Vigio a noite e espero. Sem pressa. Que as pessoas acordem. Ou não.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-35111463896553000192011-04-30T05:35:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.533-07:00IntervaloNinguém te contou que a vida era uma merda.<br />pois é<br />nem tão simples quanto parece.<br />ilusões se manifestam das maneiras mais doces possíveis<br />e você,<br />calejado, cansado, conhecedor dos meandros da vida, essa puta,<br />ainda cai.<br />não há mistério nas maneiras nada sutis da vida te destruir<br />ela começa com mentiras suaves<br />e aos poucos vai te levando pro buraco<br />você pode até acreditar que tudo ainda vai dar certo<br />é isso que a vida quer<br />mas mantenha em mente a possibilidade de derrota<br />a vida não perdôa os idiotas<br />a vida não perdôa ninguém,<br />na verdade<br />e se você acha que pode escapar<br />me desculpe<br />mas você não passa de um imbecil da pior espécieBleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-87378628970576375992011-04-18T04:18:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.547-07:00Sobre como me tornei um Dinossauro .4.4<br /><br />É sexta-feira à noite e eu caminho. Ou quase isso. Trafego da melhor maneira que posso do lado de dentro do passeio. Caminho lentamete, estudando cada passo, pois sei que é perigoso andar imprudentemente no meu atual estado. Eu estou naquele passeio caminhando, mas estou totalmente fora de mim. Meu nariz não para de sangrar, e, agora que reparei melhor, estou mancando um pouco, pois minha perna esquerda dói terrivelmente. É uma boa maneira de lembrar que ainda se está vivo. Entrar numa briga que você não pode ganhar. Não ganhei nada com aquela briga. A não ser a certeza de que eu ainda estava vivo. Se eu pudesse me lembrar, agora, neste momento, quem me deu essa surra dos diabos, mandaria-lhe um buquê de flores. Com um bilhetinho assim: Obrigado, seu safado, por me manter vivo, e acordado.<br />Demorei pra chegar em casa. E dormi como uma pedra. Na outra manhã. Eu era um outro homen.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-5888944424112791582011-04-08T09:23:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.561-07:00Sobre como me tornei um Dinossauro .3.3<br /><br />Tenho trabalhado cerca de dez horas por dia, pois não suporto ficar nesta casa vazia. Ela já levou tudo. Desmontou o quarto do nosso filho. Ela me deixou ficar com nossa cama. Com a televisão. O som. A geladeira. O fogão. O resto ela levou. Não tenho mesas ou cadeiras. Não tenho copos. Como alguém deixa um fogão pra trás mas leva todas as panelas? Eu não possuo mais a poltrona em que me sentava para ler histórias fantásticas para nosso filho. Nem a rede em que tantas vezes fodemos loucamente ou pusemos nosso filho, ainda bebê, para dormir. Não possuo mais nada que valha alguma coisa no mercado de móveis. E nem resquícios daquilo que um dia foi minha alma.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-3518363108887432212011-04-03T06:07:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.578-07:00Sobre como me tornei um Dinossauro .2.2<br /><br />Sinos de igreja e buzinas. Não sei onde estou. Só sei que é alguma porra de cidade velha e fedida onde ela deve ter me convencido a levá-la. Alguma babaquice sobre a história importante da vila na inconfidência mineira ou algo que o valha. No buteco onde estou a cerveja é terrivelmente quente e não há cadeiras ou bancos. Bebe-se em pé, encostado no balcão. Eu não a vejo. Não sei onde ela está. Então pago e saio com pressa, pois se não estou aqui com ela eu devo ter ficado mesmo maluco. E então eu a vejo. Do outro lado da rua, numa daquelas praças rídiculas de cidades do interior. Ela está lá. Beijando outro homem. <br />Então eu acordo.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2360219320456783420.post-44330865761874631802011-04-01T04:39:00.000-07:002012-07-11T06:05:27.590-07:00Sobre como me tornei um Dinossauro.1<br /><br />“Que Deus tenha piedade de sua alma.” foi a última coisa que ela disse antes de ir embora. Eu não pude dizer nada. Eu nuca sei o que dizer. Apenas me sentei e continuei exterminando todas as bebidas que pude encontrar dentro de casa. <br />Então, era isso. Eu estava falido. Sozinho. Desempregado. Destituído de tudo aquilo que eu pensava um dia conquistar. E, invariável e inexoravelmente, triste. Numa hora dessas é possivel pensar, até com um certo charme, em tirar a própria vida. É possível pensar em dar a volta por cima como um héroi ou coisa do tipo e conseguir tudo de volta. É possível pensar em animosidades numa tarde de domingo e reparar em como depois daquele dia ela nunca te olhou do mesmo jeito. Mas o mais provável que se faça é continuar. De um jeito ou de outro. Aguentando as pontas da melhor maneira, tentando sobreviver e não perder a sanidade, o que é quase impossível, diga-se. E arranhando as paredes em noites de angústia acompanhado de um litro de uísque barato e um disco dos Bêbados Habilidosos. <br />Escritores de auto-ajuda diriam pra olhar para a frente e pensar que você pode ser o que quiser. Não eu. Isso é uma grande mentira. Eu queria ser astronauta, bombeiro, cafetão, integrante da máfia italiana, caçador de recompensa. E, no entanto, sou um especialista em matar baratas, semi-viciado em inseticida, que não tem mais mulher e com quem os filhos não falam. Meus amigos se resumem a alguns bêbados de esquina, e uma amiga que não vejo há quase dois anos. Toda a minha fortuna consiste em uma casa alquebrada, de dois quartos, uma coleção de livros e discos pelos quais ninguém além de mim e meia dúzia de bebuns no mundo se interessam, e a trilhardaria quantia de seiscentos dinheiros numa caderneta de polpança que minha mulher me convenceu a fazer. Não é uma vida pra se orgulhar. Mas, diga-me com sinceridade, alguém pode realmente se orgulhar de uma vida inteira nesse mundo de merda?<br />Eu queria ter respondido à ela, “Deus não liga pra nós, ele tirou férias”, mas não tive coragem. Eu queria ter me ajoelhado à seus pés e pedido que ficasse, mas sei que não adiantaria. Apenas tornaria as coisas piores. Apenas faria com que ela se afastasse ainda mais rápido de mim. Pensei em ligar pra ela, com a desculpa de levar as roupas dela até seu novo lar. Mas sei que ela não me diria onde está morando. Nem com quem, o que é mais importante. Então a única coisa que fiz foi me sentar e beber. Acho que, alguém deve concordar comigo, quando se está totalmente fodido, não há muito o que fazer. Apenas olhar a merda girando no ventilador.Bleck Tay (de novo)http://www.blogger.com/profile/18326189342894020889noreply@blogger.com3